quarta-feira, setembro 26, 2007

Fase muito boa

Faz bastante tempo que não jogo, bastante mesmo. Talvez não para os padrões de pessoas que não tenham o vício, mas para mim, mais de dois meses sem jogar nem paciência é muito tempo.

Descobri nesse tempo todo, principalmente nesses dois meses, que você pode pode reproduzir todas as sensações, todos os atrativos que te sugam para os mundos virtuais dos games na vida real, e em maior intensidade e duração.

Pode parecer um chavão sem tamanho, mas o fato é que você deve viver e aproveitar todos os momentos do seu dia com prazer, com felicidade. É muito melhor você aproveitar um bom filme, extraindo ao máximo o tempo ao lado da esposa, a pipoca, mãos dadas, cabeça no ombro, enfim, tudo o que um cinema ou dvd podem propiciar do que passar essas mesmas duas horas num jogo, construindo um personagem virtual ou chegando mais e mais perto do fim de um jogo.

A sensação de vitória, de construção, vem quando você percebe que se estivesse jogando você não estaria ali, com aquela pessoa, naquele momento, e isso dura o tempo que você acreditar nisso. Ela é potencializada quando você percebe que a sensação de culpa não enevoa as de vitória e de conquista do objetivo, muito pelo contrário, estar fazendo o que você acredita ser certo e ter muito prazer com isso potencializa o momento. E SEM CULPA, isso é o principal. Viver sem culpa é realmente viver de verdade.

O importante é acreditar que o tempo que você passa no jogo é o tempo que você não está construindo seu futuro. O ciclo vicioso de "jogar porque tem medo da vida real, fazendo com que a vida real se torne mais difícil por estarmos perdendo oportunidades, dando-nos mais vontade de fugir para a vida virtual do jogo" precisa ser quebrado, e essa quebra é sempre difícil, dolorosa, demorada. Acredito hoje que estou bem próximo da quebra definitiva. Acredito também que o fato de estar cada vez mais afastado dos jogos me faz viver melhor meu momento na vida real, que não está fácil, mas a vida para muito poucos é fácil. Acredito que fazendo as coisas da maneira correta as oportunidades surgirão cada vez mais, como elas sempre surgem, mas você precisa estar atento quando elas passarem, porque a chance pode durar muito pouco, e você pode perdê-la por estar enfiado em outro mundo.

A vida pessoal está excelente, a vida profissional também e a vida financeira vem melhorando aos poucos, com muito sacrifício da família, mas vem melhorando. Como disse meu pai, se eu levei anos para me enfiar no buraco, nada mais normal do que demorar anos para sair. E claro que gastar dinheiro é mais divertido do que segurar e não gastar. Mas não existe um "load game" para você fazer melhores escolhas depois que jogou o dinheiro pelo ralo em compras e lazeres desnecessários, não existe uma forma de ganhar dinheiro rápido e salvar a situação. Mas a vida de todo mundo é assim, e para se sobressair você deve fazer coisas diferentes de todos, ou seja, fazer contas, economizar, gastar só o que tem, e por aí vai.

O importante é acreditar que jogar faz mal, para quem tem o vício, claro. Jogar uma horinha por dia pode parecer inofensivo, mas no final de um mês você terá jogado 30 horas, mais que um dia inteiro jogando. Se você tivesse gastado esse tempo vendo filmes, seriam 15 filmes; dormindo significaria dormir 9 horas ao invés de 8 ou 7 ao invés de 6, e uma hora a mais dormindo faz muito diferença; lendo livros seriam 2 livros no mês; fazendo esporte seriam 1 hora de esporte por dia, quando meia hora de caminhada por dia já faz maravilhas pela saúde. Isso tudo para 1 hora de jogo por dia, que parece tão inofensivo.

Eu estou desde o começo do ano nessa luta. Acredito que não tive nenhuma recaída, pois não perdi tempo precioso jogando, apesar de ter jogado coisas aparentemente inofensivas nesse tempo, muitas vezes com minha esposa para quando ela parasse, eu parasse também. Mas como a vontade continuava vindo dia após dia, principalmente nos dias difíceis, decidi que o que eu estava fazendo era pouco. Logo após meu aniversário decidi que não jogaria mais, e ponto final. Vou gastar neurônios e emoções em outras coisas. Vou arrumar meu jardim, fazer academia, trabalhar mais tempo, ficar de bobeira em casa com minha esposa, sei lá, mas não vou jogar. Tem dado certo por mais de dois meses, e a vontade de jogar vem diminuindo mais e mais, a ponto de eu esquecer por muitos dias que eu tive qualquer problema com isso na minha vida.

Cada dia longe do jogo, cada dia que eu vivo com prazer eu dou mais valor a isso. Estou construindo algo que nunca construiria dentro de jogo algum: a certeza de estar no caminho certo, do jeito certo, e aproveitando cada momento.