quarta-feira, junho 21, 2006

Uma mudança bem vinda

Mudei!! Da casa antiga, cara, num condomínio, para uma casa maravilhosa, quase uma chácara, economisando muito dinheiro. Estou muito feliz, mas por algum motivo isso me traz várias ansiedades, e com elas, fraqueja minha decisão de não jogar.

Faz já provavelmente um mês que eu não jogo nada, nem paciência, nem pinball, nada. Só tinha conseguido isso uma vez no começo do ano. Estou sofrendo tremendamente com a abstinência. Não sei se é a falta de foco no trabalho que essa mudança de casa me trouxe, se é o fato de que sempre em época de copa eu assisti 90% dos jogos e essa copa eu estou vendo 10%, ou é simplesmente a quantidade de tempo que estou sem jogar.

Minha vontade agora é ir no site da MSN de jogos, baixar uma demo qualquer, e começar a jogar. Fiz isso várias vezes durante o ano, e sei que eu não abaixo apenas um, eu abaixo todos os novos (pois os antigos já joguei todos), e vou jogando um a um, perdendo horas e horas com isso, e tendo que recuperar depois trabalhando sábados ou até as 9 da noite na semana seguinte pra repôr.

Mas estou decidido a não jogar. Desde quarta-feira, talvez até desde segunda-feira que não consigo me concentrar, me focar no trabalho, e fico navegando por aí, lendo sobre copa, política, bussunda, navegando pelo humortadela e lendo centenas de piadas fraquinhas, fuçando coisas idiotas no Youtube, e fazendo só o essencial no trabalho, que não é finalizar um projeto, só dar a manutenção no que já está concluído. Tudo isso com a desculpa que é a ansiedade pela grande mudança na minha vida. Mas se eu já estou na casa nova, já entreguei as chaves da casa anterior, porque hoje ainda eu continuo sem foco, e com muuuuita vontade de jogar? Pra mim é o maldito vício.

Minha cabeça manda a idéia da necessidade de me divertir. Eu PRECISO me divertir, eu preciso me desafiar num joguinho de lógica, eu preciso VENCER o computador, ser mais inteligente que o criador do jogo, eu preciso instalar um maldito joguinho que vai me consumir horas e horas, porque isso me traz uma vitória imediata. Eu não preciso ficar esperando juntar dinheiro para comprar uma casa, ou um móvel, eu não preciso esperar o fim do dia para sair do trabalho e ficar com minha esposa e meus cachorros, eu não preciso me planejar para iniciar algum projeto novo, fora do trabalho, que me traga frutos futuros, EU NÃO PRECISO ESPERAR, é só entrar num jogo, e começar a vencer de imediato.

A pressão pelo resultado imediato é responsável por uma boa parte do vício. Você de uma hora pra outra se torna alguem reconhecido, ou de uma hora pra outra você supera todas as dificuldades e termina um jogo. Com um mês de treino em Counter Strike (umas 5, 6 horas por dia), vc já se torna bastante bom pra ser conhecido, com pouco mais que isso acaba entrando pra um grupo mais sério, talvez até participando de campeonatos. Com 3 meses de Ultima Online, fazendo as coisas certas, você monta uma guilda, consegue os melhores personagens e armas, e todos passam a te reconhecer, desde que você resolva passar 6 horas por dia jogando. Agora, na vida real, pra vc comprar uma casa, um carro, casar, comprar móveis, etc, leva anos, e muito tempo de caminhada, muito mesmo. Tem que ralar, engolir coisas ruins no emprego, tomar e dar bicas em namoros, nada acontece rápido.

Assim, o que é melhor?
- Ter um pequeno sucesso terminando um jogo em 10 horas, e se sentir bem consigo mesmo, um vitorioso, em pequena escala, claro.
- Passar alguns meses se treinando 6 horas por dia num jogo de habilidade como o Counter Strike e similares, e passar a figurar direto entre os melhores de cada partida.
- Passar alguns meses treinando os personagens, adquirindo itens, comprando casas e montando guildas, 6 horas por dia também, e se tornar conhecido entre algumas centenas de jogadores reais.
- Passar anos da sua vida, 5 na faculdade, mais uns 2 de trabalho até conseguir comprar um carro, outros 5 ou 6 para comprar uma casa, tudo isso trabalhando ou estudando 8 horas por dia, para ter uns 2 ou 3 grandes sucessos na vida por ANO.

A resposta óbvia é que você tem que fazer o que é real, o que vai te dar sustento no futuro, construir um patrimônio, etc, etc, etc. Mas e se você tivesse a oportunidade de ter uma renda fixa (mesada dos pais por exemplo) garantida por tempo indeterminado, tempo pra sair a noite e conhecer gente nova e não ter preocupações com seu futuro, principalmente o financeiro? É um cenário meio utópico, mas para algumas pessoas pode parecer real. Neste caso você preferiria passar 8 horas por dia se divertindo com jogos de computador, ou no seu trabalho ralando e aguentando problemas do dia a dia pelas mesmas 8 horas? Acho que cada um tem a sua resposta para essa pergunta baseado na sua experiência de vida, mas o que eu sei é que a resposta não é tão óbvia assim.

Hoje, construir alguma coisa que vai levar anos para se concluir, uma poupança pra comprar uma casa e sair do aluguel, uma vida confortável e estável para mim e minha esposa, uma vida com lazer, viagens, etc, é muito mais importante e recompensador do que ser o melhor jogador de qualquer coisa que seja em qualquer ranking que seja. Eu vejo os jogos como algo que pode vir a me tirar a coisa mais importante da minha vida, que é minha esposa. Mas esta é a minha realidade, e, mesmo na minha realidade, eu passo por períodos onde o jogo me suga várias coisas, muito tempo, e muito ânimo.

Não sei se vou continuar conseguindo me manter afastado dos jogos, mas vou continuar tentando. Devo isso a mim, a ela, e ao meu futuro. Tenho esse objetivo na cabeça, a apesar dela estar fraquejando a uma semana, com as desculpas mais variadas possíveis, eu vou continuar tentando. Tenho também outros motivos que me dão mais força, algo que não faz muito sentido pra mim, mas que tem me trazido muita motivação. Ainda vou explicar o que é nesse blog.

Espero não votar aqui dizendo que não consegui me conter, ou pior, nem voltar aqui durante meses a fio porque voltei a jogar sem parar, e por isso não querer perder tempo de jogo escrevendo quando poderia estar mais próximo do chefe final de algum jogo por aí.

quinta-feira, junho 08, 2006

Uma história triste

Isso aconteceu com um amigo meu. Na verdade hoje não sei dizer se fomos apenas conhecidos ou mais que isso. Ele veio morar na nossa república durante cerca de 6 meses, e depois precisou ir embora.

Se você estiver lendo isso, me desculpe divulgar a história, mas acho que ela deve servir de exemplo para que mais pessoas não passem pelas dificuldades que você passou. Você me ensinou muito, e me abriu os olhos para a gravidade deste vício, que ninguem leva a sério. Caso você peça, eu retiro toda e qualquer referência ao acontecido.

Ele entrou na nossa casa como um recém recuperado de um vício pesado em jogos. Ele não poderia ter entrado em um lugar pior. Acho que se algum de nós tivéssemos a menor noção do perigo, não teríamos deixado ele se juntar á nossa casa, apelidada "carinhosamente" por nós como o buraco-negro do jogo.

O grande detonador da vida dele foi o Civilization. Ele, na sua outra república, chegou a passar 5 dias trancado no quarto, saindo só para comer, apenas jogando este jogo, sem parar.

Os pais, cientes do que estava acontecendo, em uma viagem à casa dos avós, deixaram ele em casa, e queriam fazê-lo passar um fim de semana pelo menos sem jogar. Assim, deixaram ele sem dinheiro, apenas com a geladeira cheia. Desativaram a conexão com a internet, desinstalaram todos os jogos do computador, alem de tirar absolutamente qualquer CD de instalação da casa, levando tudo embora. Qualquer semelhança com o tratamento de impacto com viciados em drogas NÃO é mera coincidência.

No momento em que os pais deixaram a casa, ele começou a se sentir inquieto. Como conseguir um Civilization pra jogar, como jogar. Ele precisava, fisicamente, do jogo. Em um momento de rara sorte (ou azar), ele se lembrou do número de conexão de uma internet discada gratuita, se conectou pela linha discada, fez o download do jogo (300 Mb em linha discada demora muuuuito tempo pra baixar) e o instalou. Quando os pais chegaram no final do fim de semana, ele estava tranquilo, com o computador desligado, sem nenhum traço de que tinha passado TODAS as horas do fim de semana jogando, sem sair de frente da tela do computador.

Pouco tempo depois os pais tiveram a idéia questionável de mandá-lo à um médico, que receitou alguns remédios um pouco pesados contra depressão, para curá-lo de algo que não é depressão. O viciado em jogos não se sente deprimido, pois 100% do tempo que está jogando ele se sente mais vivo do que jamais esteve, e ele passa a maior parte do tempo que está acordado jogando, ou seja, VIVO, e não deprimido.

Os remédios funcionaram por um tempo. Num acesso de fúria contra os jogos, ele juntou todos os CDs de jogo que tinha em um saco de lixo de 100 Lt, levou a um terreno baldio e detonou cada um deles com um pedaço de madeira. Estava com raiva do que os jogos tinham feito com a vida dele. Pouco mais de uma semana depois ele já tinha recuperado os CDs dos jogos preferidos. R$ 5,00 num camelô para alimentar o vício não é nada.

Na época em que ele entrou na nossa república isso tudo era passado. Ainda sob medicação, ele se mantia a uma distância saudável dos jogos. Quando nos via jogando por horas seguida fazia questão de ficar longe do quarto.

Por algum motivo, nesta época os remédios acabaram trazendo efeitos colaterais por causa de uma super-dosagem. Ele começou a ficar hiper-ativo, falando sobre tudo sem parar. Numa segunda-feira, após ter saído para passar o fim de semana com os pais, ele não voltou para a república. Como isso era comum, já que ninguem controla ninguem numa vida em república, ninguem deu muita atenção.

Na quarta-feira ele apareceu em casa, meio sujo, com o olhar meio perdido, e falando muito, sem parar. Ele tinha saído no domingo da casa dos pais e chegado na nossa república apenas na quarta-feira. Aparentemente tinha falado com alguem no meio do caminho, no ônibus, que acabou colocando idéias religiosas fanáticas na cabeça dele, que já estava afetada pela superdosagem. Ele passou tanto tempo falando que a garganta começou a ficar ferida, provavelmente por desidratação.

Bom, evitando os detalhes piores da história dele nestes últimos dias que morou conosco e resumindo: os pais o convenceram a voltar a morar em são paulo naquele mesmo fim de semana, e eu ouvi falar dele mais umas duas ou três vezes, sempre dizendo que estava em recuperação. Ou seja, o vício no jogo acabou sendo tratado como depressão, com remédios, trazendo ainda mais problemas pra ele, espero que não permanentes.

De novo, se você estiver lendo isso e estiver recuperado: parabéns. E se você estiver em recuperação, eu dou meu total apoio. Passei, e talvez ainda passe por tudo o que você passou, e estou lutando para quem sabe de uma vez por todas acabar com isso de vez.

Acho que as pessoas precisam realmente se conscientizar do fato de que é POSSÍVEL E REAL o vício em jogos de computador. Não quer dizer que os jogos devem ser banidos, que uma tarja azul deve ser adicionada a todos os jogos. Apenas que todos devem se conscientizar, principalmente os pais, de que isso existe, e é possível que seu filho adolescente esteja passando por algo igual.

Demorou bastante tempo para as bebidas serem levadas a sério, os cigarros também. Os dois levam a vício químico, que é muito mais fácil de se identificar, mas o vício em jogos de azar existe, e todos levam a sério, assim como chegará o dia em que todos saberão que existe o vício em jogos de entretenimento, e que ele pode sim destruir uma vida, ou apenas uma parte dela. No meu caso, cinco anos.

Multi-Players de estratégia

Os jogos de estratégia são jogos onde você cria um exército do nada, a partir de um único trabalhador inicial, e uma base central (claro que outros cenários iniciais são possíveis). Esse trabalhador pode construir uma casa que vai começar a criar guerreiros, a sua base produz mais trabalhadores, você precisa construir fazendas para alimentar todas essas pessoas, minerar ferro para construir armas, cortar árvores para ter madeira para poder construir mais construções que te tragam mais guerreiros, mais trabalhadores, etc, até você ter um exército poderoso o bastante para tentar vencer o outro exército, que também começou com um único trabalhador. O jogo acaba quando um dos exércitos acaba com todas as construções do outro.

Jogos neste formato se tornam multi-players quando ao invés de tentar derrotar o computador num embate direto, você tenta derrotar outro jogador real, ou mais de um. Oito jogadores num mesmo cenário podem se embater para ver quem é o mais rápido na criação de seu exército, ou o mais estratégico para conseguir as melhores formações de guerreiros e acabar com o outro.

Outro formato é aquele em que 2 ou mais jogadores se juntam para derrotar um grupo de exércitos do computador.

Cada partida pode levar até umas 3 horas mais ou menos. Jogos deste estilo famosos são o Warcraft, Starcraft, Civilization (um pouco diferente), Age of empires, etc.

É sempre bom falar de novo: não estou dizendo de forma nenhuma que qualquer pessoa que venha a jogar um warcraft com mais alguns amigos vão se viciar no jogo, assim como você sair com uns amigos para tomar cerveja não significa que você se tornará irremediavelmente um alcóolatra. O que estou dizendo é que se você tiver a propensão, e que se você estiver pessoalmente num monento difícil da vida, esses jogos podem vir a fazer alguns estragos.

Neste ponto devo contar o que aconteceu comigo e um amigo de outra cidade, que veio visitar nossa república e infelizmente não sabia onde estava entrando. Caso ele chegue a esse blog, vai saber exatamente que estou falando dele. Neste caso, saiba que eu estou escrevendo isso mais como um desabafo, apenas falando para os ares, já que provavelmente ninguem vai ler isso tão cedo. Se você achar que deve falar diretamente comigo, estou totalmente aberto, mas por favor não espalhe quem eu sou pra todos os conhecidos antes de eu me sentir preparado pra falar sobre o presente com as pessoas que mais importam na minha vida.

Bom, voltando à história: ele veio passar um fim de semana na minha república. Ele deveria chegar numa sexta feira de carona com a gente, e ir embora no domingo, de novo de carona, e pronto. Tenho certeza que ele esperava pelo menos uma noitada, um monte de conversa jogada fora, uns passeios na universidade, bastante TV com certeza, talvez até uma partidinha de basquete se a galera tivesse afim, mas o que ele não esperava eram 4 marmanjos enfurnados dentro de casa durante todas as horas que estivessem acordados, fora os poucos minutos de ir até o Mc Donalds ou outro fast food para comer o essencial, e voltar o mais rápido possível para o computador. Eram 2 computadores conectados e jogando 24 horas por dia.

Deve ser a cena mais chocante de se presenciar: um quarto, 2 camas, 2 computadores. 2 dormindo e 2 jogando. Quando os dois que estão jogando cansam, acordam os que estão dormindo, que vão imediatamente até o computador e começam a jogar. Os jogos eram o Starcraft e o Diablo II, e nenhum dos 4 viciados era o meu amigo. Ele veio de são paulo pra ficar comigo, e tudo o que eu conseguia fazer era convidá-lo a jogar, quando um de nós (normalmente eu, que era o anfitrião no caso) dava a honra, bem a contra-gosto, para ele tomar um dos nossos lugares.

Pois bem, vendo essa cena e sendo absolutamente gentil e simpático, ele não chegou a criticar muito duramente ou a desaprovar o que estávamos fazendo. Na sexta-feira provavelmente ele achou só engraçado o quanto tempo passávamos naqueles jogos. Será que era tão divertido assim? Ele jogou algumas partidas, mas era impossível acompanhar nosso ritmo de jogo, uma vez que já estávamos totalmente treinados, e sem paciência para ensinar um novato todos os truques. Ainda assim ele conseguiu se divertir um bocado, já que os jogos vendem tanto assim por que são de fato divertidos.

Entrando na madrugada e indo dormir de manhã, no sábado, no horário que ele estava acordando, a estranheza ficou maior. Mas como ele me tinha (e me têem ainda, graças a deus, como eu tenha a ele) em alta conta, não deu maior atenção. Por ser o anfitrião, e gostar de bater papo, eu saía daquele limbo do quarto (pra felicidade de quem tomava meu lugar) diversas vezes pra jogar conversa fora com ele. Nos nossos horários de refeição - duas vezes por dia, não mais que isso - ele conseguia convesar mais com a gente, embora os papos acabassem sempre voltando para os jogos novamente.

E foi assim de novo durante o sábado todo, depois o domingo todo, avançando na segunda (lembrando que ele tinha vindo com roupa e dinheiro para no máximo até o domingo), e finalmente a terça feira. Nesse momento, ele me chama de lado e diz: "pelamordedeus, eu preciso ir embora. Todas as minhas cuecas estão sujas, eu não tenho mais dinheiro pra comer, vocês não tem comida dentro de casa, e se eu tivesse dinheiro para o ônibus eu já tinha ido". Na época eu achei aquilo engraçadíssimo, zuei um pouco com ele, mas fiz com que o dono do carro, junto com os outros que iam pra são paulo com a gente voltássemos de fato naquele dia. Hoje eu realmente morro de vergonha da falta de responsabilidade, falta de companheirismo, de bom senso, de qualquer respeito com ele. Assim, de novo, se por alguma manobra bizarra do destino ele estiver lendo isso, eu sinto muito, do fundo do coração mesmo. Demorei muito pra perceber que poucas pessoas levariam aquilo tudo tão na boa quanto você.

Bom, este era o nível do vício que chegamos. Daqueles 4 viciados, 2 continuaram mais pesadamente nos anos seguintes, eu eu mais um, outro, pouco tempo depois mudou e conseguiu terminar muito bem a faculdade, e o último, que estava se preparando pra entrar no mestrado, mesmo jogando tanto quanto nós, entrou e conseguiu ser totalmente bem sucessido na vida acadêmica. Não é a toa que nós chamávamos ele de Mestre. Ia bem na universidade, jogava todos os jogos como ninguém, e ainda por cima ficou rapidamente noivo, depois de conhecer a namorada num desses encontros esportivos de faculdades em outra cidade. Valeu Mestre, espero que você continue exatamente como sempre, quieto mas divertido, sempre totalmente focado no que é importante de fato, como o trabalho, faculdade, relacionamentos, mas sempre sabendo dosar entre o divertimento também. Nunca vou entender como ele conseguia ser tão viciado quanto a gente, e ser tão bem sucedido em todo o resto. Talvez porque estivesse muito alienado jogando.

Duke Nukem 3D

Os jogos multi-player são os jogos em que você não está sozinho, na sua casa, enfrentando o computador com charadas, jogos de destreza, quebras-cabeça, etc. Você joga contra outros jogadores reais ou em cooperação com eles, contra o computador, os dois juntos na mesma sala, ou talvez à distância, pela internet.

Esse tipo de jogo é mais saudável que o solitário, pois pelo menos você está interagindo com outra pessoa real, mas por outro lado ele é mais viciante, já que você já está suprindo a necessidade básica do ser humano de se socializar. Neste caso, se os dois (ou mais) jogadores tiverem propensão ao vício em jogos, vocês se distanciarão do mundo, ao invés de um distanciamente solitário no caso do vício em jogos single-player (o que sinceramente eu não acredito que exista por si só).

O primeiro que apareceu para mim foi o Duke Nukem, um jogo em que você é um mercenário que se arma até os dentes para enfrentar alienígenas que querem roubar as mulheres do planeta terra. Ele ficou bastante famoso pois foi o jogo apontado como responsável por estimular o estudante de medicina de são paulo a entrar num cinema de um shopping metralhando várias pessoas, o que pra mim é uma grande e ridícula viagem. O jogo é bem pouco associável com a realidade, com um grande toque de humor, nada a ver com acontecido naquele shopping ... enfim, isto é uma outra discussão.

O jogo em si deve levar no máximo um dia para ser jogado de ponta a ponta, até você matar o alienígena final. Nesse exemplo eu acho que dificilmente alguém se viciaria neste jogo, pois uma vez terminado, você não tem porque jogá-lo novamente com tanta motivação, tanto afinco.

Mas assim que você joga este jogo no modo multi-player, ou você e um amigo passando pelas fases, ou um contra o outro em diversos cenários diferentes, a coisa começa a mudar de figura. Se vocês terminam todas as fases, um outro amigo que estava por ali pode querer jogar com vocês, ou criarem a velha regra de uma vida pra cada um, e por aí vai. Nesse momento a vontade de jogar vai um pouco além das poucas horas que você jogaria sozinho.

Ao jogar um contra o outro (ou até 4 pessoas, cada uma por si), a vontade fica maior ainda, por quem perde a partida quer começar novamente para ir a forra, e isso se torna um ciclo sem fim.

Claro que eu não estou dizendo que qualquer pessoa que se sentar numa redinha com alguns amigos e começarem a jogar será sugado para o mundo do vício sem volta. Só estou querendo apontar a diferença entre passar algumas horas jogando algo sozinho contra o computador, e o quanto essas horas são multiplicadas ao convidar alguns amigos para jogar.

O Duke Nukem em si não me fez perder nada da minha vida além de provavelmente algumas festas, partidas de futebol ou uma ou outra aula, rotina normal de um universitário. Nesta época o jogo era para mim só uma outra maneira de me divertir, como assistir TV, ir num barzinho ou ir nas grandes festas da faculdade.

A coisa começou a mudar com o aumento das dificuldades na universidade e o aumento da atratividade dos jogos multi-player. Provavelmente se eu não morasse fora, e junto comigo não morassem mais pessoas com a mesma propensão ao vício, nada de grave teria acontecido, mas a soma dos fatores virou algo bombástico.

Jogos, diversão ou perigo?

Antes de começar a falar sobre o quanto os jogos me fizeram mal, o quanto eu acho que eles deveriam ser tratados de maneira diferente, etc, acho que é necessário falar um pouco sobre a minha opinião sobre o assunto.

Não acho que os jogos sejam essencialmente maus, assim como não são essencialmente más as bebidas, ou os jogos de azar. Eles podem causar dependência, não em qualquer pessoa, mas em algumas pessoas que têem propensão a serem afetadas pelo tipo de vício que ele traz.

Também preciso esclarecer que não sou um extremista que quer ver o fim dos jogos, que eles são crias do demônio, e que seus inventores estão tentando fazer com que todos os jogadores fiquem viciados em seus jogos. Me considero uma pessoa extremamente sensata, e, sem grandes auto-bajulações, razoavelmente inteligente.

O fato é que os jogos de hoje têem seu sucesso medido pelos jogadores em si por quão viciante ele é. "Fiquei a madrugada jogando", "jogos 4 horas por dia" e "não vejo a hora de chegar o fim de semana para eu poder varar a noite no jogo" são as frases mais ouvidas quando um novo jogo avassalador chega no mercado. E isso é normal, e desejável pelos criadores dos jogos, pois é isso que eles fazem da vida, e é assim que eles ganham dinheiro.

Agora, não tenho acesso à estatísticas, mas vamos dizer que 1% das pessoas que joguem são realmente viciadas em jogos. No brasil devemos ter alguns milhões de jogadores. 1% de um milhão são 10 mil pessoas, o que nos dá um número de algumas dezenas de milhares de, na sua grande maioria adolescentes, viciados de fato em jogos. Esse número pode ser totalmente chutado, mas deve ser por volta disso no Brasil.

Porque o jogo vicia? Bom, não são todos os jogos que viciam de fato, mas sim aqueles que trazem ao jogador aquilo que ele não consegue na vida real. E se ele puder compartilhar isso com outras pessoas, nos jogos multi-player, melhor ainda.

Exemplo real: eu mesmo.

Acho que os grandes buracos negros na minha vida foram o Ultima Online, o Unreal Tournamente, um conjunto bombástico de jogos de estratégia (warcraft, starcraft, diablo, diablo II) o Hattrick e o Texas Holdem Poker, passando ainda por jogos online menos prejudiciais (Archmage, Alien Adoption Agency, Barafranca, MS gaming zone, etc), cada um com seu determinado peso.

Vou falar um pouco de cada jogo que eu passei nos próximos posts.

terça-feira, junho 06, 2006

Confabulações iniciais

E eis que, na década de 70 nasce um lindo garotinho nesse nosso mundo tão vasto, cheio de curiosidade para explorar e aprender tudo o que puder neste curto espaço de tempo que é a nossa vida. Mal sabia ele que esse processo todo seria repleto de obstáculos e dificuldades, as vezes bem difíceis de transpor.

A tecnologia de jogos na nossa geração não é assim tão atraente quanto a da geração atual, mas mesmo assim já jogávamos bastante. Começando com o tele-jogo, que eu não tive muito contato, passando por atari (river raid, hero, elevator action, haunted mansion, moon patrol, etc), TK 85, MSX PLUS, Nintendinho, Nintendo, Mega drive e chegando aos grandes alienadores, PC games, game cube, PS, etc.

TK-85
Foi para mim uma época que se mesclou com a época do atari. O que mais me lembro é que precisávamos passar um bom par de horas digitando as linhas de código no computador antes de começar a jogar, ou usar as famigeradas fitas K7, tendo que acertar o volume, ou algum outro controle que não me recordo mais.

Tenho certeza que "programar" os joguinhos antes de começar a jogar de fato (em basic) foi um dos responsáveis pela minha escolha de faculdade, a engenharia de computação. Passávamos, eu e meu irmão, mais tempo colocando o jogo, eu ditando e ele digitando, ou ele ditando e eu digitando (10, print laine, abre parênteses, abre aspas, olá, fecha aspas, fecha parênteses, niu laine, sempre dando um rum pra ver como estava o programa até aquele ponto - quem usou vai entender ;-) , para só depois começarmos a jogar.

ATARI:
Me diverti bastante com atari. Lembro claramente do tempo que passávamos - eu, meu irmão e muitas vezes vários primos - jogando river raid, haunted mansion e um joguinho do Snoopy vs Barão vermelho, que ninguem superava meu irmão. Tenho certeza que tinha outros, mas esses são os que ficaram mais marcados. Os outros que eu citei acima acabei jogando beeem mais tarde, em emuladores de atari.

Nessa época os joguinhos tinham o papel que eles sempre deveriam ter. Divertir sem compromisso. Jogar, perder e passar o joystick para o próximo, disputando quem consegue fazer mais pontos.

Os pais vezes participando, aluguel de carticho na locadora do bairro, tudo com cara de tecnologia ultra-avançada e novidade, cada fase uma aventura em si. Com muito pouco os jogos de atari conseguiam trazer todas as emoções que caracterizam um bom jogo.

MSX
Aqui os jogos começavam a ficar mais poderosos, com os disquetes onde você podia salvar os jogos, literalmente centenas de opções de jogos, a grande evolução do momento - o DOS, jogos coloridíssimos e mais elaborados.

Lembro que até aqui o jogo de computador sempre foi algo extra, algo que não tomava tempo. Jogava as vezes uma tarde inteira, mas se fosse pra assistir TV, brincar de comandos em ação (meia-noite, samurai, etc), masters of the universe (he-man, gato guerreiro e o castelo de grayskull), jogar futebol com bolinha de tênis na sala do apartamento, eu parava tudo e ia. Era apenas uma diversão para quando eu estivesse sozinho, ou quando todos quisessem a mesma coisa.

Meu irmão jogava o Elite, talvez o primeiro jogo de estratégia perene (que você desliga mas o mundo continua exatamente como estava quando você parou) que existiu. Era um jogo de comércio interplanetário, que você precisava saber o que comprar barato em um planeta pra vender caro em outro, com upgrades da nave e batalhas com piratas do espaço. Eu achava um tanto paradão, mas meu irmão adorava.

Do meu lado eu lembro de jogar um joguinho que tinha um ratinho correndo alucinadamente por uma casa, que mudava a cada fase, pegando queijos e fugindo de gatos. Era um jogo de ação, com resultados diretos (ou você passava de fase ou morria), o meu tipo de jogo.

Até que chegaram os primeiros intels, os 386, com seus jogos espantosamente bem detalhados e bem pensados. Nada daqueles joguinhos onde você usava mais a imaginação para jogar do que aproveitava o jogo em si. Agora passávamos pela revolução da imagem. Estávamos entrando nas 256 cores, definição de muitos bits por pixel, sons mais reais, visitar uma loja de joguinhos ou um amigo com um jogo novo era algo que trazia água na boca. Estávamos vivendo a história.

Mas sobre isso eu escrevo depois, pois acho que em algum ponto depois da chegada dos intels, os jogos ultrapassaram a linha do recomendável.

sexta-feira, junho 02, 2006

Apresentações

Bom dia a quem tiver chegado até aqui.

Hoje acho que só vai ser possível mesmo escrever um pouco sobre o propósito desse blog.

Não vai ser exatamente um diário do que acontece todos os dias comigo, embora eventualmente poderei falar sobre algo importante; se tratará mais da história do que aconteceu até aqui, de como me envolvi com este problema por volta de 97, 98 e como isso afetou todos os aspectos da minha vida, bem como tentar relembrar o que eu pensava a respeito e o que penso hoje.

Não espero que esse blog seja algum tipo de guia, que sirva como auto-ajuda, ou que mude a forma de encarar os jogos para várias pessoas, espero somente poder desabafar, falar de algumas coisas que não ouso falar, por enquanto, nem com minha própria esposa, pois é extremamente doloroso, e pra mim, humilhante.

O dia está incrivelmente corrido no trabalho, e faz cerca de 2 semanas que eu estou conseguindo apenas trabalhar, sem tocar em jogos, e quero me manter focado e concentrado enquanto isso durar. A partir de segunda-feira começarei a postar sobre o começo da minha vida, um texto bem auto-biográfico, pra tentar entender onde foi que a diversão se transformou em problema, em vício.

Acaberei invariavelmente, apesar de ser extremamente cético, esbarrando em assuntos mais transcedentais, energéticos, religiosos, etc, que foram também importantes em alguns momentos.

A gente preciso sempre encontrar forças em algum lugar pra continuar acreditando que é possível reverter os cenários. E a verdade é que é possível sim, sempre é!!

ASS: BPD