sexta-feira, agosto 03, 2007

Artigos e sites sobre o vício

Fiz uma pesquisa rápida sobre o que já foi falado, isso só em português, sobre o vício em jogos eletrônicos, e comparado com um ano atrás, a quantidade é animadora (em relação a quanto isso está começando a ser tratado com seriedade), e claro, assustadora.

Primeiro os que estão na minha coluna lateral:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76953-6014,00.html
http://www.meiobit.com/arq/005907.html
http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT995660-1664,00.html
http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=4770

Depois outras que encontrei hoje:
http://ciberia.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=id.stories/5109
http://www.ovelho.com/modules/news/article.php?storyid=35830
http://pc.ptgamers.com/artigo.asp?id_artigo=51
http://info.abril.com.br/aberto/infonews/062007/28062007-14.shl
http://www.geek.com.br/modules/noticias/ver.php?id=9881&sec=7

Além disso um site interessantíssimo, em inglês, no mesmo estilo de JA, mas para jogadores eletrônicos:
http://www.olganonboard.org/

E no site do "O velho", ele reproduz o teste para começar a perceber se você é viciado.

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Responda as perguntas abaixo com sinceridade:
1) você alguma vez se pegou jogando por mais tempo do que gostaria ?
2) Você joga, freqüentemente, em longas seções, de mais de três horas?
3) Você joga todos os dias ?
4) Você já teve algum trabalho ou atividade importante para resolver que foi adiada (ou mesmo ignorada) por causa do jogo ?
5) Incluindo fins de semana e feriados ?
6) Você considera pizza e coca-cola como uma dieta normal e saudável ?
7) Você se sente impelido a "recompensar-se", depois de alguma tarefa ou objetivo alcançado, com uma rápida jogada ?
8) Você fica irritado ou agitado se não consegue jogar ou conectar ?
9) Você costumava praticar esportes, mas abandonou por causa do videogame?
10) Você já tentou diminuir o tempo que passa jogando ?
11) E falhou ?
12) Você já recebeu algum ultimato de parentes ou namorado(a) ?
13) E ignorou ?
14) Alguma vez já mentiu para parentes, amigos ou no trabalho sobre o quanto você joga ?
15) Você já sonhou com videogames ?
16) Alguma vez seu habito de jogar já lhe causou problemas na escola ou trabalho ?
17) Você fica seriamente aborrecido quando perde no jogo ?
18) Você fica pensando sobre a derrota ou perda sofrida no jogo por horas, ou mesmo dias ?
19) Você alguma vez usou termos como "flooder", "cheater", "ownage", "macroar", "respaw", "gibs", ou "lamerz" em conversas ? (algumas palavras são contribuições minhas ao questionário original)
20) A maioria dos seus amigos tem nomes como "hOt69", "Darth Derek", "kIlLeR", "Lord Loser", "StealthNet" ou "O Velho" ?
21) Quando alguém lhe conta uma piada, você diz "LOL" ao invés de rir?

Cada resposta positiva conta um ponto. Aqui esta seu "estado":
1-4 : Relaxe, você esta sob controle e os jogos são somente mais um componente do seu estilo de vida normal e saudável;
5-10: Você já estámostrando sinais de dependência.
11-15: Você está nos limites do"saudável". Você tem problemas para dizer "não" aos jogos e esta a poucos passos da total dependência.
16-21: Você é um dependente. Você não consegue mais viver sem os jogos e considera seu personagem virtual mais interessante do que você é na vida real. Procure ajuda.

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Bom, fiquei na última faixa, pensando nos meus piores meses de vício.

E pensando em como estou atualmente, graças a deus na primeira faixa. Isso pra mim é uma vitória sem preço, e me faz acreditar que todos podem conseguir o mesmo. O único problema, hoje e sempre, é que estou sempre a beira de voltar para a última faixa, basta um pequeno descuido. Sem faixas intermediárias, é direto mesmo para a última. Isso não quer dizer que sou melhor ou pior que ninguém, apenas estou longe por enquanto.

Fico muito feliz que mais e mais pessoas possam perceber que estão viciadas, que teêm uma doença emocional, e que tenham a oportunidade de controlar, de amadurecer. Quando isso se tornar mais conhecido, os jogos, a internet, deixarão de ser perigosos.

Mais histórias

Reproduzo aqui um dos comentários recebidos. Como ele não está em evidência, prefiro colocá-lo num novo post.

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De tantos em tantos tempo... depois de mil promessas, encontro novidades de internet no nosso computador. A última ... Second Life...

Mas um cara casado que entra até de madrugada, quando estou dormindo só pra poder falar com uma zinha do SL e que abre perfil de avatar no orkut, depois de ter prometido que não faria sexo pela internet...

Perdi a confiança e estou acabando com um casamento de 15 anos... Os nossos filhos ficam nervosos quando sento no computador pois sabem que o pai apronta e temem que eu descubra. Mal sabem eles que eu já sei. Vício...? Mas cansei... drogas e bebidas têm tratamento... tentei ajudar... desisti, cansei de me magoar.

Escrevo isso para que alguém que esteja passando por isso leia e saiba... se ele não quer ajuda, desista... se ajude... Saí magoada, me sentindo lixo e passando por louca desequilibrada, afinal, não tem nada demais...

Mas sinto falta de 15 anos atrás, quando ele ainda via graça na pureza da vida, no som da água do mar batendo nas pedras, do deitar na rede e curtir o som do mar... ouvir os pássaros...tomar sorvete caminhado na areia da praia. Olhar dentro dos olhos, tocar, sentir o calor, o amor...Mas em algum lugar da vida a gente se perdeu. Que pena.

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Difícil comentar uma situação assim, mas tem um ponto que eu venho pensando muito nos últimos tempos. O que é de fato o vício em jogos assim? Qual o ponto de partida para você começar a fazer algo que só vai te trazer problemas? Porque deixamos algo que sabemos que nos faz mal, e sabemos que faz mal para pessoas próximas, tomar conta de nossa vida, de nossos dias, nossas noites, nossa família?

O vício em jogos eletrônicos, bate-papo, internet no geral é como os outros vícios. Começa como novidade, diversão, integração com outras pessoas, etc, mas em algum ponto ele passa de um adicional na nossa vida para se tornar a razão da nossa vida. Esse ponto é quando percebemos, consciente ou inconscientemente, que precisamos de uma fuga da nossa vida diária. Se já não gostamos de um aspecto de nossa vida por si só, a vida real perde do longe quando comparada ao que é fornecido nos jogos ou na internet.

Os jogos, a internet, tudo é sobre ilusão. Quem eu quero ser no jogo, quem eu quero ser na sociedade virtual, o que eu quero esconder da minha vida real que eu não gosto, e o que eu gosto e quero mostrar. E não estou generalizando, é assim também na vida real. Quando você começa a conhecer outra pessoa dificilmente vai sair falando dos seus defeitos, você vai falar das suas qualidades, obviamente. O ponto é que com os jogos interativos, com a internet, você pode manter essa imagem de "apenas qualidades" indefinidamente, você pode aumentá-las, você pode inventar novas, ninguém vai duvidar mas, na vida real, uma hora a máscara cai. Vem daí o mundialmente famoso conselho: seja quem você é. Não fingir nada para as outras pessoas, pelo menos as mais próximas, é a melhor maneira de garantir um relacionamento por muito tempo.
Aí entram os jogos que estimulam você a ser outra pessoa, ter outra vida, ter uma segunda vida, uma segunda chance. Para quem tem problemas na vida real é um prato cheio para fugir, para se esconder. É muito mais fácil fingir que não tem nada de ruim acontecendo e começar de novo do zero, ter 20 anos novamente, não ter responsabilidades nem problemas ... Com bebida, drogas, jogos de azar, ou qualquer outro vício, o princípio é exatamente o mesmo: fugir da realidade. Só mudam os meios, uns menos piores que os outros, uns com aparência de normalidade maior que os outros.

Nesse ponto preciso frisar que não sou contra os criadores dos jogos, não sou contra quem realmente se diverte nos jogos ou na internet, mas infelizmente isso não é possível para todo mundo. Existem pessoas, muitas, que se perdem no mundo imaginário, e são apenas elas próprias, os familiares, os amigos que conseguem identificar o problema. Quem está com elas no jogo ou na internet, mesmo os administradores dos jogos, não podem imaginar que ela está com um problema, que ela tem uma doença.

Assim, para tentar entender quem tem o problema, para tentar ajudar, ou continuar ajudando, é preciso saber do que ele está fugindo, do que ele não gosta na vida real, o que acontece na vida dele que ele gostaria de mudar, do que ele se esconde criando novas personalidades, avatares, nicks de bate-papo, personagens, etc. E nessa hora não é simplesmente falar que tudo vai mudar, tudo vai ser maravilhoso e que no dia seguinte o mundo será novamente um lugar lindo. A vida é difícil, o mundo é uma bosta, ninguém está aqui a passeio, todo mundo tem que batalhar para resolver os problemas financeiros, problemas no trabalho, problemas no relacionamento, na família, porra, problemas até com os vizinhos, carros, cachorro, gato, sei lá!!!! A mágica de tudo é ver que as pequenas felicidades do dia a dia são milhares, milhões de vezes mais importante do que os problemas do dia a dia. Sem estar gostando da vida você não resolve nenhum dos problemas, quanto mais todos. E existem ainda os que são insolúveis!! Ou seja, é realmente difícil, e esconder embaixo do tapete não é de forma nenhuma um bom caminho.

A complacência é o pior que os viciados podem receber de quem está próximo. Nós sabemos que fizemos merda, que está errado. Quando voltamos ao pouco pro objeto do nosso desejo, sabemos que não devíamos, que aquilo faz mal, mas contra-atacamos com o célebre "um pouquinho não vai matar ninguém" e aí começa tudo de novo. Mas se quem espera ajudar ficar passando a mão na cabeça, a parte infantil da nossa cabeça vai se regozigar, e vai querer cada vez mais. No meu caso um relacionamento, até então perfeito, de quase 4 anos; no caso lá de cima, de 15 anos, ambos em perigo só porque o problema não foi tratado com seriedade. Se existissem formas de colocar-nos longe de um computador por seis meses, conseguiríamos controlar o vício mais facilmente, mas isso não é possível na realidade de hoje.

O primeiro passo é entender que existe um problema, uma doença emocional. Enquanto ele não entender isso, não há o que fazer. Mostre artigos, blogs, notícias, etc, que provem que a doença existe, e que ele sofre dela. O segundo passo é perceber o que isso vai tirar dele e, principalmente, o que já tirou. O terceiro passo é querer acabar com isso e voltar a ter uma vida normal. E o quarto passo, que nunca será concluído completamente, é se manter longe da primeira queda, com muito apoio de quem é próximo.

Não falo isso tudo como o dono da verdade, das respostas, falo como alguém que já passou por isso, que se atirou duas vezes no abismo. Na primeira perdi a faculdade que ralei por um ano no cursinho pra entrar. Na segunda quase perdi o casamento. Hoje só estou longe porque tenho puro medo de começar tudo de novo, tenho medo do meu vício, porque sei que se acontecer de novo, vou jogar no lixo tudo o que eu sou hoje, tudo o que consegui, mesmo que aos trancos e barrancos, vou jogar fora 4 anos da minha vida, que iriam se somar a outros 4 que já não tem recuperação.

É difícil para quem não tem esse problema entender porque a pessoa não consegue simplesmente parar, se manter longe e pronto. Mas o que nos leva a querer voltar é a decepção com o estado atual na vida, mesmo que seja em apenas um aspecto, e as promessas, na verdade mais que promessas: as lembranças de quando tínhamos tudo o que queríamos, éramos tudo o que quiséssemos em outro mundo. O sucesso no mundo virtual é instantâneo, e é difícl querer trocar o instantâneo pelo longo prazo. No fundo somos simplesmente egoístas, paramos de pensar que existem pessoas se machucando em volta, e continuamos fazendo assim mesmo. Nosso umbigo é o que importa, um comportamento simplesmente infantil. Essa área da nossa personalidade esqueceu de crescer.

No meu caso, quando entendi que ia perder a parte de mim que eu mais gosto, consegui mudar os pesos nessa balança. Quando entendi que conseguir o que se quer depois de lutar por meses é muito mais gratificante que conseguir o que se quer depois de 10 minutos, várias vezes por dia. Excesso de sucesso nos torna vazios.

Nesse momento eu amadureci um pouco, na pancada. Foi uma semana na minha vida em que eu não era ninguém, eu era etéreo. Tudo o que eu acreditava que eu era, tudo o que era importante pra mim, eu tinha ou jogado no lixo, ou quase. É disso que precisamos, de muita pancada, para perceber que existem pessoas que, por mais merda que você tenha feito, ainda gostam o suficiente de você para se sentirem fisicamente machucadas pelo que você fez, que perdem tempo e saúde chorando por você, que gostam a ponto de, mesmo querendo que você suma da vida delas, estenderem a mão para tentar ajudar. Infelizmente só começamos a sair dessa se realmente quisermos e, graças a deus, aqueles dias foram definitivos para eu ter certeza de que queria sair.

No caso do casamento de 15 anos acima me parece que ele ainda não percebeu que tem um problema, e que é sério. Se ele precisa esconder, é porque ele sabe que está errado, e se isso está fazendo o que resta do casamento ruir, então ele precisa querer acabar com isso. Até diria que ela não está necessariamente querendo conhecer mulheres no Second Life ou em bate-papos, o que ele quer é a fuga de um problema real, talvez até mesmo da situação real do casamento. Mas é preciso saber do que ele está fugindo, porque está com medo de encarar a realidade.

Se o que ele quer é ficar sozinho, ele precisa no mínimo ter força pra falar isso com todas as palavras. Se ele quer deixar a situação ir aos poucos por água-abaixo, isso será a ruína dele como pessoa. Quando tudo terminar ele vai continuar achando que foi porque sim, e não por culpa do vício, e vai jogar mais coisas além do casamento no lixo. Mas se terminar porque ele achava que era melhor, ele vai poder parar de se esconder desse problema no mundo virtual, e encarar a vida como ela vai passar a ser. E se tudo melhorar aos poucos (e demora), ótimo, mas não é garantido. De qualquer forma o mais importante é agora é ele como pessoa, como homem, como pai. Não sei em que ponto está realmente ele como marido, se tem volta ou não, mas o que pode ser perdido é mais que o casamento.

Na coluna lateral está o link para os jogadores anônimos (JA). Os mesmo princípios de recuperação dos vícios em bebida e drogas são utilizados para a recuperação do vício em jogos, no caso focado em jogos de azar. Eu passei cerca de 1 mês visitando as reuniões de JA, e isso me ajudou muito. Dividir os problemas com estranhos, ouvir os problemas de estranhos, mexe com a gente. O fato é que poderíamos estar bem pior se o vício fosse um pouco diferente. E o Second Life nesse ponto é perigoso, pois você pode de fato gastar dinheiro real lá dentro, e problemas financeiras são as últimas coisas que vocês precisam agora.

Bom, espero que junto com meu desabafo eu tenho podido dizer uma frase que seja que ajude alguma coisa. Não me considero curado, porque isso não tem cura, mas me considero são hoje, e gostaria que todos que passaram ou passam por isso pudessem sentir o prazer, a força que sinto hoje pra me manter afastado. Cada vez que ouço histórias assim eu revivo tudo o que eu passei, e meu dia fica mais sombrio, mas se puder ajudar um mínimo que seja uma pessoa que esteja passando por isso, e que talvez nem saiba, eu já me sinto menos em débito com as pessoas que amo.

Ficam aqui meus desejos de melhora para ele e para o relacionamento.